domingo, 2 de outubro de 2011

Teatro pós-dramático de Lehmann

Lehmann é professor de Estudos Teatrais da Universidade Johann Wolfgang Goethe, em Frankfurt, e membro da Academia Alemã de Artes Cênicas. Pela Cosac Naify, publicou, em 2007, o livro Teatro pós-dramático (tradução de Pedro Süssekind), no qual oferece um vasto panorama dos processos teatrais dos anos 1970 aos 90, pontuando a utilização de tecnologias audiovisuais e a incorporação de elementos das artes plásticas, música, dança, cinema, vídeo e performance.

• Em 1970, sobretudo na Europa, aconteciam profundas transformações no modo de pensar e apresentar a arte teatral. Se rompia a estética dos padrões midiáticos, os recursos utilizados e formais estavam se desligando da cena em relação ao texto. Também cabem nesta implosão as noções dramáticas de representação de mundo e a dinâmica entre imitação e ação. Neste novo cenário, os espectadores eram chacoalhados em várias direções, isso sim era evidente.
Este movimento é chamado de “teatro pós-dramático” pelo crítico e dramaturgo alemão Hans-Thies Lehmann.

O “teatro pós-dramático” tem de encontrar seu lugar e se afasta da estrutura dramática tradicional.
Mas há uma segunda acepção do termo: estamos regressando a uma ideia muito mais ampla do que seja o teatro, com elementos de ritual, de encontros comunitários, de festividade. É o futuro que deixamos para trás.
Lehmann entende o teatro pós-dramático como resposta à era da imagem, em que novas tecnologias põem fim ao primado do texto. Havendo o perigo de se render à ela.
A descoberta dessa grande variedade de linguagens cênicas pode desaguar num entretenimento habitual. Um conceito teórico não é o suficiente para produzir bom teatro.
Muitas técnicas e estilos do pós-dramático foram aceitos como expressão autêntica e interessante de nosso tempo. Há mesmo quem tenha assumido o pós-dramático como discurso para fugir dos vícios do teatro dramático das grandes instituições. Mas não há teatro político que não seja visualmente incômodo, atordoante.

Capítulo 3. Panorama do teatro Pós-Dramático
Além da ação: Cerimônia, Vozes no espaço e paisagem.

O teatro pós-dramático é um teatro de estados e de composições cênicas dinâmicas.
Não é uma ação mas um estado ou situação, mas que de qualquer forma representa uma ação, de uma maneira ou de outra.

A ação interna vira um acontecimento externo,essa é a alma do drama clássico.
A ação central foi suprimida no pós-dramático, valendo por si mesmo como qualidade estética, é a substituição da ação dramática pela cerimônia criando uma diversidade dos procedimentos de representação.

cerimónia
(latim caerimonia, -ae, carácter.. sagrado, veneração, respeito, culto, cerimonia)
s. f.
1. Forma exterior e solene de celebração de um culto religioso ou profano. = RITO, SOLENIDADE
2. Manifestação mais ou menos solene com que se celebra um acontecimento da vida social.
3. Cada uma das formalidades rituais.
http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=cerimónia

Pós-dramáticos:

Tadeusz Kantor na sua última fase busca um “estado de não-representação” sem nenhum curso de ação contínuo, em que as cenas, frequentemente condensadas e expressionistas, são conectadas em uma forma quase ritual de evocação do passado, é o “teatro da morte”.

Grüber: Uma estrutura cênica prende a atenção, de modo que a ação dramática se torna secundária.

Jean Gene considerava o teatro como cerimônia, em sua essência ritual fúnebre, um diálogo com os mortos.

Robert Wilson afirma que se sente com estrangeiro que acompanha as enigmáticas ações cultuais de um povo desconhecido. No teatro operam forças misteriosas que parecem mover magicamente as figuras, sem motivações, objetivos ou nexos apreensíveis. Na estética de Wilson, o movimento em câmara lenta dos atores produz uma experiência muito peculiar, que põe por terra a ideia de ação. Por meio de iluminação diferenciada, cenários, arquiteturas e paisagens o espetáculo é posto em movimento, descontínuo, não designando nenhum espaço homogênio, compartimentado, como em listras.

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